terça-feira, 29 de maio de 2012

ROSAS

Te pedi rosas
Ausências e cegueiras
E pedi amor.

Nascentes que eu pressenti
Rios que correm por mim
E um céu de princípio e fim.

Espanta as sílabas tórridas
Submerge-me nas tuas ondas
Enterra os meus temores.

Olha-me e esconde-me
E de noite fecha minha boca
E ao nascer da aurora oculta-me.

Faz-me descer aos teus ocasos
Leva meu olhar
Se outros me olharem.

Proíbe o meu pranto
Ensina o amor sem quebranto
Até me perder no campo.

Dilui-me no vinho dos Deuses
Segura meu cálice de vate
E bebe-me sem pressas.

Já não suspiro por tempos futuros
E nada vou dizer a quem passa
E por não dizer, talvez te venha a perder.

Eu já perdi muitas coisas
Que me foram tiradas
Por gente sem graça.

Que a nossa história a dois
Continue a viver
A encher nossas noites de prazer.

Mas te peço rosas
De todos os tamanhos
E de todas as cores.

Isso eu peço e continuo a pedir!...

Maria Luísa Adães

domingo, 20 de maio de 2012

Espelho...

Eu vi um espelho
Eu estava refletida nele.

Dentro do espelho estavas tu
Com teu olhar penetrante e nu.

A tua sombra diluía o fundo
E eu te via para lá do mundo.

Tu estavas aprisionado no espelho
Eu estava aprisionada fora do espelho.

Os mundos, meu e teu, se espelhavam
Naquele espelho que tolhia meus afagos.

Os caminhos assombrados
Por sombras que vagueavam.

Nua me encontrava e ferida
E não entrava no amor que sonhava.

Ávida de amor te esperava,
Mas o espelho nos separava.

Acordei, tu estavas a meu lado
E tudo tinha sido um sonho vago.

Eu fui a heroína de uma peça
Representada por um Deus fechado.

O tempo que me foi dado
Não era o meu tempo.

No outro lado me olhavam
E esperavam...

No espelho não se escreveu nada!


Maria Luísa

sábado, 12 de maio de 2012

Patético

Tudo passa e se renova
Não há hora derradeira e final
Há apenas a mudança da vida
O passar de gerações.

Muda o cambiante das cores
E o vento traz uma canção diferente
E o mar fica gritante e dorido
Adivinha a mudança.

As formigas recolhem ao celeiro
Não as vemos
Caminhando nas pequenas estradas
Feitas por elas.

As cigarras deixam de cantar                                          
Não têm casa
Nem sonhos a realizar.

Tons dourados
Espelhados no mar
E uma canção dolente.

Se fala de amor
O mundo liberta-se da dor
E da amargura pungente.

E nada me pode agredir
E tudo é o Princípio
Não há Fim!...

Fechar os olhos
Sentir-te em mim
Perder-me na noite
Junto a ti.

Sonhar o nosso espaço
Pisando a terra
Olhando o chão
Clareando a vida.

O poeta chora
O poeta sorri
O poeta sofre
O poeta vive
O poeta é a pétala
Dos reflexos inúteis.

Mas esquece tudo
No abraço íntimo do amor
De um amor diferente.

Para que sobrevivas
Eu cairei antes de ti
No teu abismo.

Patético momento...

Maria Luísa

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Que me resta?...

Internet/ Salvador Dalí/ Meditação/1934
Quanta lembrança passada
Quanto tempo vivido sem nada.

Quanta alegria escutada
Quantos anseios e desejos de nada.

Quanta vaidade escondida
Quanta sombra dolorida.

Quanta ventura esperada
Quantos desejos frágeis e inúteis.

Quanta tragédia vivida
Quantos versos destruídos.

Quanta poesia cantada
E não lida, nem escutada.

Quanto tenho sido esquecida
Num mundo onde não fui acolhida.

Apenas me resta o amor
A indiferença de quem passa.

Meus olhos choram
Caudais de lágrimas interiores

E meu rio se esconde
Nem em mim acredita.

Que me resta?...


Maria luísa